martins em pauta

domingo, 26 de abril de 2015

Prosa de Domingo: O tempo, os tempos e suas medições.


Domingo: 26 de abril de 2015

 por François Silvestre 



Quem caça o tempo, para medi-lo ou compreendê-lo, sujeita-se à angústia de trazer o bornal vazio.

O tempo é arisco. Indomável corcel, que não aceita sela nem se dá à montaria.

O pensante, ancestral dos nossos dias, rudimentar da vida de querer entender-se, usou a observação dos astros, no céu infindo, para situar-se. A primeira situação, no espaço, foi relativamente bem sucedida.

“Navegar é preciso, viver não é preciso” diziam os navegantes fenícios. E no destino da navegação, sem tempo para contemplações, filosóficas ou poéticas, ocupados os dias ao comércio, à praticidade de sobreviver, eles inventaram as consoantes.

E foram as consoantes, pouco mais de vinte, que acasaladas à sonoridade vocálica do “a” ao “u” permitiram ganhar tempo na comunicação. Era tudo uma questão de tempo.

Os sons vocálicos, herdeiros da sonoridade dos grunhidos, de nascimento nas cavernas, cuja perquirição fonética limita-se aos movimentos palatais, anteriores ou posteriores, tônicos ou átonos, não bastavam à comunicação sofisticada. Isso, no espaço do Ocidente. Juntar a eles um símbolo inventado, a consoante, foi a chegada da luz na escuridão, afugentando trevas.

E a escuridão foi fundamental à comunicação. Ela e as distâncias. Na caverna, ao dia, a comunicação dava-se pela mímica. Bastava grunhir e gesticular. Ao escurecer, foi necessário o som organizado. Grunhir não bastava mais. Nasceu o fonema vocálico.

Depois, foi preciso buscar alimentos mais longe da caverna. Surgiu o tambor, ancestral longínquo do telégrafo.

O tempo do homem não é o conhecimento. É a sobrevivência. Conhecer das coisas foi atividade dos desocupados, artistas ou filósofos, a serviço do poder ou contra os poderosos.

Os que estiveram a serviço do poder viveram mais e tiveram vida fácil. Os que se rebelaram viveram miseravelmente, ou pouco, na angústia melancólica de uma biografia do porvir. De inútil espera.

Mas eu falava de medir o tempo. E o tempo do texto tá quase sem espaço. Passou Janeiro, homenagem a Jano, Deus etrusco, onde era porteiro, ao virar introdução nos mitos latinos. Foi-se Fevereiro, também etrusco, da purificação; februus.

E Março? Partiu. Do Deus Marte ou dos Marços, povos perdidos nas fronteiras da Galícia. Abril foi abertura, ou Afrodite, nascida da carícia da espuma. Maio, que chega apressadamente e promete fertilidade, pondo véus nas cabeças do cio, nos noivados que enfeitam o alvoroço.

Se em Maio há o cio, a Deusa Juno garante a procriação saudável. É Junho, tempo da colheita. Na terra e no ventre.

Aí chega o poder. Julho é Júlio César, trinta e um dias. Agosto é Augusto César, com dias iguais. Bastou tirar um dia da purificação februária. É escasso o tempo de purificar.

Os quatro derradeiros são números. Da praticidade romana, antes da reforma gregoriana. Té mais.

De Silvestre Gomes.

O tempo do homem não é o conhecimento. É a sobrevivência. Conhecer das coisas foi atividade dos desocupados, artistas ou filósofos, a serviço do poder ou contra os poderosos. Genial!!! a Prosa desse domingo tem a cara do prosista…… Me fez lembrar Quintana, quando disse que a “preguiça é a chave do progresso”, pois, se o homem não tivesse preguiça de andar a pé, não teria inventado a roda… Abração, meu poeta!!!!!!! Siliveste do Tocantins….



Fonte: Da Coluna Plural, do Novo Jornal.

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